domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Mundo Passa




As coisas que vemos são temporais. O nosso mundo está perecendo, e não temos aqui qualquer morada permanente. Em poucos anos (e talvez sejam muito poucos), todas as coisas deste mundo serão mudadas. Em poucos anos (e talvez sejam muito poucos), o Senhor retornará, a última trombeta ressoará, e a grande sentença será pronunciada sobre cada um dos filhos dos homens.

Existe um mundo que não passa. É sobremodo glorioso; chama-se a “herança dos santos na luz”. Ela resplandece com o amor de Deus e com o gozo dos céus. “O Cordeiro é a sua lâmpada.” Suas portas são constituídas de pérolas e estão sempre abertas. E, à medida que contamos aos homens sobre esta maravilhosa cidade, nós os convidamos a entrarem nela.

O livro de Apocalipse nos fala sobre a história das vaidades da terra: “Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. E a voz de harpistas, de músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem artífice algum de qualquer arte jamais em ti se achará” (Ap 18.21,22).

Esse é o dia que está por vir sobre o mundo, e essa é a condenação que paira sobre a terra — uma condenação prevista nos desastres financeiros, que com freqüência produzem tristezas em muitos corações e desolação em muitos lares.

Sabemos a respeito de um ministro do evangelho que faleceu há mais de duzentos anos. Ele viveu até quase aos oitenta anos. Viajou diversas vezes da América para a Inglaterra e vice-versa. Esse ministro faleceu em Boston, cheio de amor e de fé. Na noite anterior à sua morte, enquanto se encontrava silencioso na cama, sua filha lhe perguntou como ele estava. Ele levantou as suas mãos e, com seus lábios moribundos, disse: “Coisas que perecem, coisas que perecem!” Ele repetiu estas solenes palavras e, referindo-se ao mundo com todas as suas vaidades, nas quais os homens põem seus corações, afirmou: “Coisas que perecem!”

“O mundo passa” — esta é a nossa mensagem.

Assim como o sonho de uma noite. Deitamos na cama, para repousar, adormecemos e sonhamos. Acordamos pela manhã. E, vejam, desaparece tudo que em nosso sonho parecia tão agradável e tão permanente! Assim também o mundo passa rapidamente. Ó filho da mortalidade, você não tem um mundo mais glorioso do que este?

Assim como a névoa da manhã. A noite traz a névoa sobre os montes; o vapor cobre os vales; o sol aparece, e tudo se vai — os vales e os montes estão visíveis novamente. Assim também o mundo passa, e não pode ser mais visto. Ó homem, você abraçará um mundo como este? Você se deitará sobre uma névoa e dirá: “Este é o meu lar”?

Assim como uma sombra. Não existe nada mais irreal do que uma sombra. Ela não possui substância, essência. Ela é escura, é uma figura, possui mobilidade — isto é tudo! Assim também é o mundo. Ó homem, você correrá ansiosamente atrás de uma sombra? O que uma sombra pode fazer por você?

Assim como uma onda do mar. Ela se levanta, cai e nunca mais aparece. Essa é a história de uma onda. Essa é a história do mundo. Ó homem, você fará de uma onda o seu quinhão? Você não possui um travesseiro melhor do que esse, onde possa deitar a sua cabeça fatigada? Esse é um mundo infeliz para o coração do homem amar, para uma alma imortal com ele se encher!

Assim como o arco-íris. O sol reflete as suas cores através de uma nuvem, e, por alguns minutos, tudo é lindíssimo. Mas, a nuvem se retira, e toda a beleza desaparece. Assim é o mundo. Com toda a sua beleza e sua glória; com todas as suas honras e seus prazeres; com toda a sua alegria e sua loucura; com toda a sua pompa e sua luxúria; com todas as suas orgias e suas desordens; com todas as suas esperanças e suas bajulações; com todo o seu amor e seus sorrisos; com todas as suas canções e seu esplendor; com todas as suas jóias e seu ouro, o mundo passa. E a nuvem que refletia o arco-íris não o reflete mais, de maneira alguma. Ó homem, é um mundo que passa como este que você tem por sua herança?

Assim como uma flor. Bonitas, muito bonitas; cheirosas, muito cheirosas são as flores de verão. Mas elas murcham. Assim também desaparece o mundo de diante dos nossos olhos. Enquanto estamos contemplando-o e admirando-o, ele desaparece! Nenhum resquício permanece de todo o encanto; resta apenas um pequeno grão de poeira! Ó homem, você pode nutrir-se de flores? Você pode estar morrendo de amores por aquilo que dura apenas por uma hora? Você foi criado para a eternidade; somente as coisas eternas podem ser a sua herança ou o seu lugar de descanso. As coisas que desaparecem com o seu uso tão-somente zombam de suas aspirações e não podem satisfazê-lo; e, ainda que pudessem fazer isso, elas não permanecem. A mortalidade caracteriza tudo neste mundo; a imortalidade é inerente às coisas do mundo por vir — os novos céus e a nova terra, nos quais habita a justiça.

Assim como um barco. Com todas as suas velas levantadas, e a brisa refrescante soprando, o barco se aproxima e se coloca ao alcance de nossos olhos, passa diante deles e, em seguida, desaparece. Assim também surge, passa e desaparece este mundo e tudo o que ele contém. Permanece somente algumas horas diante de nossos olhos; depois, vai embora! O imenso oceano sobre o qual o barco navegou com tanta calma ou com tantas intempéries, não deixa nenhum resquício de toda a vida, ou movimento, ou beleza que passavam sobre ele! Ó homem, este mundo que desaparece é o seu único lugar de habitação? Todos os seus tesouros, suas esperanças, suas alegrias se encontram neste mundo? Onde estarão essas coisas quando você descer à sepultura? Ou onde estará você quando essas coisas forem deixadas aqui e você não entrar no gozo de toda a herança que poderia ter durante toda a eternidade? Por melhor que seja, esta é uma herança infeliz, e a sua curta duração torna-a ainda mais infeliz. Ó homem, escolha a melhor parte, que não lhe será tirada!

Assim como uma tenda no deserto! Aqueles que já viajaram pelas terras da Arábia sabem o que isto significa. No pôr-do-sol, uma pequena mancha branca parece surgir da terra árida. É a tenda de um viajante. Quando a manhã desponta, a tenda desaparece. A tenda e o seu habitante vão embora. O deserto continua tão solitário quanto antes. Assim é o mundo. Hoje ele se mostra; amanhã, ele desaparece. Ó homem, nascido de mulher, este é o seu lugar de permanência e o seu lar? Você dirá a respeito dele: “Este é o meu descanso”, quando lhe falamos que existe um descanso, um descanso eterno, para o povo de Deus?

O mundo passa — esta é uma mensagem do céu. Toda a carne é erva; e toda a bondade, como a flor da erva.

O mundo passa. Mas Deus vive para sempre. Ele existe de eternidade a eternidade. Ele é o Rei eterno e imortal.

O mundo passa. Mas o homem é imortal. A eternidade se encontra diante de cada filho de Adão durante todos os dias de sua vida. O homem estará na luz ou nas trevas para sempre! Em gozo ou em tristeza para sempre!

O mundo passa. E depois? Esta é uma pergunta que deve causar profundo interesse no homem. Se o mundo tem de passar, e o homem, viver para sempre, é muito importante que saibamos onde estaremos e o que seremos para sempre! Um médico famoso, procurando consolar um paciente desanimado, disse-lhe: “Trate a vida como um jogo”. Este foi um conselho ímpio, pois a vida não é um jogo, assim como o tempo não é um brinquedo de criança, para ser jogado fora. A vida neste mundo é o começo da vida que não termina; e o tempo é a porta da eternidade.

E depois? Ó homem, você tem de assegurar-se de que possui um lar naquele mundo para o qual em breve você irá. Você não deve sair de sua tenda sem ter certeza da habitação na cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus. Quando você tiver feito isso, poderá descansar em paz no seu leito de morte. Até que você tenha feito isso, não poderá viver nem morrer em paz. Uma pessoa que teve uma vida mundana finalmente terá de morrer e, quando ele tiver que deixar este mundo, pronunciará estas palavras terríveis: “Estou morrendo, e não sei para onde estou indo”. Outra pessoa, em circunstância semelhante, clama: “Estou a apenas uma hora da eternidade, e tudo é trevas”. Ó homem, é tempo de acordar!

“Como eu posso ter certeza?” — você pergunta. Há muito tempo Deus respondeu esta pergunta. E sua resposta está gravada para todas as épocas — “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”.

“Crê no Senhor Jesus! Eu sempre fiz isto” — você afirma. Se isto fosse realmente verdade, então, assim como o Senhor Jesus vive, assim também você seria um homem salvo. Mas a sua afirmação é realmente verdadeira? A sua vida tem sido a de uma pessoa salva? É certo que não. Tem sido uma vida completamente dedicada ao efêmero. Portanto, assim como o Senhor Deus de Israel vive, e assim como vive a sua alma, você ainda não creu e não está salvo.

“Eu não tenho de fazer qualquer obra neste grande assunto de receber meu perdão?” Nenhuma. Que obra você pode realizar? Que obra excelente é capaz de conseguir o perdão e tornar você pronto para receber o favor divino? Que obra Deus ordenou que você realize, a fim de obter a salvação? Nenhuma. A Palavra de Deus é muitíssimo clara e fácil de ser entendida: “Ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Rm 4.5).

Existe apenas uma obra por meio da qual um homem pode ser salvo. Essa obra não é uma realização humana, e sim a obra do Filho de Deus. É uma obra completa — da qual nada pode ser retirado ou acrescentado —, apresentada por Ele mesmo a você, a fim de que você possa beneficiar-se dela e ser salvo.

“Posso me beneficiar dessa obra tal como eu sou?” Sim. Deus a colocou diante de você. E recebê-la para si mesmo, como único fundamento de sua esperança eterna, é a única maneira de você honrá-la. Nós honramos ao Pai quando concordamos em ser salvos por intermédio da obra completa realizada por seu Filho. E honramos o Filho quando concordamos em apropriar-nos de sua obra completa no lugar de nossas próprias obras. E honramos o Espírito Santo, cujo ofício consiste em glorificar a Cristo, quando ouvimos o que Ele nos diz sobre aquela obra consumada “de uma vez por todas” na cruz.

O perdão vem por meio de Jesus Cristo, homem, que é Filho de Deus e Filho do Homem! Essa é a nossa mensagem. O perdão por meio da única obra que remove os pecados, a qual o Senhor Jesus realizou em favor dos pecadores, na terra. O perdão para os piores, os mais ímpios e os mais distantes do Pai que se encontram neste mundo. O perdão do tipo mais amplo, mais profundo e mais completo; sem qualquer limite, exceção, possibilidade ou condição de ser revogado! O perdão gratuito e imerecido — tão gratuito quanto o amor de Deus, quanto o dom de seu Filho amado. O perdão espontâneo e irrestrito — oferecido com sinceridade e regozijo, assim como o perdão do pai que se lançou ao pescoço do filho pródigo! O perdão simplesmente por meio do crer em Jesus, pois através dEle “todo o que crê é justificado de todas as coisas” (At 13.39).

A salvação poderia ser ainda mais gratuita? O perdão poderia estar ainda mais perto de nós? Deus poderia, de alguma outra maneira, demonstrar mais plenamente seu ardente desejo de que você não perca a sua alma e de que seja salvo — de que você não pereça, e sim de que viva?

Na cruz, há salvação — em nenhum outro lugar. Nenhum falhar das esperanças deste mundo pode apagar a esperança que a cruz nos revela. Ela brilha mais intensamente no dia mau. No dia de perspectivas que nos abatem, de aflições intensas, de fardos pesados e de inquietações que nos oprimem — quando nossos amigos se retiram; quando as riquezas se desfazem, quando as enfermidades nos afligem, quando a pobreza nos bate à porta — então, a cruz resplandece e fala sobre uma luz que ultrapassa as trevas deste mundo, a luz dAquele que é a Luz do Mundo.


Horatius Bonar (1808 - 1889) é conhecido como o "príncipe dos escritores escoceses de hinos". Após graduar-se na Universidade de Edimburgo em 1838, tornou-se pastor em North Parish, Kelso. Juntou-se à Igreja [Presbiteriana] Livre da Escócia após o "rompimento" de 1843 e por algum tempo editou a publicação da igreja, The Border Watch. Bonar permaneceu em Kelso por 28 anos, depois mudou para a Chal­mers Me­mor­i­al Church em Edimburgo, onde serviu até o fim de sua vida. Ele escreveu mais de 600 hinos, muitos deles presentes em vários hinários, de várias igrejas e de várias línguas, o Hinário Novo Cântico (IPB) possui alguns deles.

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